Desânimo de Lula arrefece movimento Lula Livre

Na próxima quarta-feira (9), Lula sairá pela primeira vez da prisão na Superintendência da PF em Curitiba. Ele vai ser conduzido até a sede da Justiça Federal no Paraná, onde prestará depoimento à juíza Gabriela Hardt na Ação Penal sobre as reformas pagas pelas empreiteiras Odeebrecht, OAS e Schahin no famoso sítio de Atibaia.

Esse é o processo considerado nos meios judiciais, inclusive entre defensores de Lula, como o mais complicado para o ex-presidente. Os investigadores conseguiram reunir um impressionante conjunto de documentos, e-mails, notas fiscais, confissões, provas ambientais, depoimentos… Nos últimos dias, nas audiências na Justiça Federal, tudo isso foi revivido em contundentes e minuciosos depoimentos de Emílio e Marcelo Odebrecht e de Léo Pinheiro e outros diretores da OAS.

Juiza Gabriela Hardt

A expectativa entre todas as partes, incluindo petistas, é de que o comportamento de Lula diante da juíza Gabriela será bem diferente do tom desafiador que adotou diante de Sérgio Moro em setembro do ano passado no caso do Tríplex do Guarujá. A começar por sua disposição para um novo embate.

Quem conhece bem Lula e recebe frequentes informes sobre seu humor na cadeia assegura que, nos últimos dias,  ele parece ter entregue os pontos. Deixa transparecer alguma resignação com a perspectiva de que possa receber novas sentenças e permanecer na cadeia por um tempo maior do que as previsões mais pessimistas de meses atrás.

O desânimo de Lula tem vários motivos. Entre eles, a expressiva vitória de Jair Bolsonaro, a grande renovação na Câmara e no Senado, com a eleição de parlamentares com bandeiras contra a corrupção,  e a ida de Sérgio Moro para o Ministério da Justiça com amplos poderes para tornar investigações como a Lava Jato prioridade do governo. Essa mudança em Brasília praticamente trava qualquer solução tipo anistia a Caixa 2 no Executivo e no Legislativo. Pelo contrário, o que se espera são leis ainda mais duras.

A repercussão dessas mudanças na Justiça também não seria favorável a Lula e a outros condenados por corrupção. O recado das urnas foi ouvido por todos em Brasília, por mais que alguns no Congresso ainda se finjam de surdos.

Lula depõe perante Moro no processo do tríplex

Se as brechas estão se fechando em Brasília, o horizonte em Curitiba é ainda mais turvo. Se não conseguiu escapar no processo do Tríplex do Guarujá, a avaliação é de que no caso do Sítio do Guarujá a condenação é certa. A troca de juízes não afeta o prognóstico.

O pior para Lula é que, a qualquer momento, a juíza Gabriela Hardt pode dar sua sentença sobre uma terceira Ação Penal que tramita em Curitiba — a denúncia de que, entre as propinas pagas a Lula pela Odebrech,  estão as compras de um terreno onde seria construída uma nova sede para o Instituto Lula e do apartamento vizinho da cobertura em que o ex-presidente mora em São Bernardo do Campo.

Na quarta-feira (7),  os desembargadores da Quarta Turma do TRF-4 negaram, por unanimidade, os dois recursos em que a defesa de Lula tentava pelo menos adiar a sentença nessa terceira Ação Penal pela Justiça Federal em Curitiba. Agora, só depende da juíza Gabriela.

Apesar da cúpula do PT manter quase como bandeira única tirar Lula da cadeia, o desânimo do ex-presidente  também contagia a militância. Nessa sexta-feira (9), foi desarmado em Curitiba o acampamento Marisa Letícia, criado no dia da prisão de Lula em abril, com o propósito de só ser desativado quando Lula fosse libertado. Um comunicado de sua organização elencou três causas para a decisão de fechar o acampamento: 1) — Corte de gastos; 2) — Redução do número de apoiadores; 3) — Ameaças e atentados sofridos pelos militantes que lá instalaram suas barracas.

Partidários de Lula acampam em Curitiba. Foto Wilson Pedrosa/Parana em Foco.com

Segundo o comunicado, os organizadores do movimento optaram por “transformar a luta do espaço físico por uma luta itinerante e virtual”. O acampamento sobreviveu ao gelado inverno de Curitiba, mas não resistiu à ressaca da derrota petista nas urnas.

Outra evidente diferença aparece na mobilização da militância. Em setembro do ano passado, o site do PT fazia campanha para que caravanas se deslocassem para Curitiba para dar uma demonstração de força no dia em que Lula enfrentasse Sérgio Moro. De diversos lugares do país, havia anúncios de grupos que se preparavam para a viagem. Não há agora nenhuma notícia sobre a mobilização de grupo algum com esse propósito. Até a noite deste sábado ( 10) não havia sequer uma notinha na capa do site do PT.

Parece que a ficha finalmente caiu.

A conferir.

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