Como a Justiça se pôs numa saia justa com Lula, Aécio e Sérgio Cabral

Lula depõe perante o juiz Moro

Dizem que o uso do cachimbo faz a boca torta. Esse provérbio tem serventia igual para hábitos de sempre ou vícios modernos.

O avanço das investigações sobre corrupção, puxado pela Operação Lava Jato, expôs malfeitos praticados por velhas e novas elites políticas, econômicas e corporativas.

De um jeito ou de outro, quem caiu na rede está no banco dos réus.

A diferença é o que mudou para eles chegarem lá e como eles reagem a essa mudança.

A mudança histórica, que ainda resiste aos mais variados ataques, é a impunidade secular ter entrado na berlinda. A rede de proteção de todos os tempos não tem conseguido segurar todos os tombos.

Antes bastavam apenas poder, grana e um advogado competente.

Não bastam mais. Precisam de algo mais. É aí que batem cabeça.

Por mais aguerridos que fossem os advogados, como os de Lula foram na estratégia de peitar o juiz Sérgio Moro, não tiveram sucesso. Sem as facilidades de sempre, com recursos infinitos, perderam eficácia.

Aí as elites políticas optaram por um jogo mais pesado. Quem puxou a fila foi o próprio Lula ao se escalar para desqualificar processos judiciais como perseguições políticas. Passou a se exibir como o juiz de seus juízes.

Ao desdenhar as decisões de Moro e de outros juízes, encorajou outros embates. Em meio a um deles, o caso Aécio Neves, o Supremo Tribunal Federal amarelou. Abriu o flanco.

Político tem faro apurado. Ao sentirem que o STF piscou, os caciques de dentro ou fora da cadeia partiram para o ataque. Eduardo Cunha foi um deles. Depois de virar testemunha de defesa de Michel Temer, dizem antigos parceiros, afia as garras para um novo ataque.

Ex governador do Rio, Sérgio Cabral. Foto Orlando Brito

Nessa segunda-feira (23), Sérgio Cabral se sentiu à vontade para confrontar o juiz Marcelo Bretas. Quem o visitou na cadeia em Benfica saiu com a impressão de que ele continua com o poder de sempre. “O Serginho é um craque, já é o líder lá dentro”, comentou um parente muito próximo depois de constatar que ele, entre outras regalias, estava recebendo jornais e revistas e escolhendo o cardápio das refeições.

Nada que considerasse privilégio. Como Lula e Aécio Neves, Sérgio Cabral se diz vítima de uma perseguição política nos processos judiciais. O mesmo dizem deputados e senadores, alvos da Lava Jato e de outras investigações, em conversas nos gabinetes e cafezinhos da Câmara e do Senado.

Todos concordam que corrupção existe e é até grande. Mas, na versão deles, sempre praticada por outros. De preferência, seus adversários.

Tudo somado e subtraído, a lei não vale para nenhum deles.

Ou a Justiça volta a se impor ou a legalidade vai para o beleléu.

A conferir.

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