Chefe do Exército fura sinal, agrava crise e põe o país em alerta

General Eduardo Villas-Bôas - Foto Orlando Brito

A grande maioria dos brasileiros está revoltada com o escancarado acordão para “estancar a sangria” provocada pela Lava Jato e por outras investigações sobre corrupção. Os militares, que não são alienígenas, também estão indignados.

A desfaçatez do jogo ganha-ganha para, de uma só tacada, beneficiar Lula, Temer, Aécio Neves, e todos os outros caciques políticos encrencados na Justiça, elevou a temperatura nas ruas, nas redes sociais e nos quartéis.

No começo da noite da terça-feira (3), o general Eduardo Villas Boas, tido por gregos e troianos como comedido comandante do Exército, foi responsável por uma descarga elétrica na crise política.

Sinal dos tempos, ele fez isso por intermédio de uma rede social. Na véspera do julgamento pelo Supremo Tribunal Federal do habeas-corpus para Lula, condenado à prisão, em segunda instância, por corrupção e lavagem de dinheiro, o general fez a tensão subir de patamar.

Seus 2 tuítes, lidos por William Bonner no fecho do Jornal Nacional, soaram como um ultimato ao STF. Assustaram o país e pegaram os inquilinos do Palácio do Planalto de surpresa.

O que disseram? Naquela linguagem cifrada que os militares tanto adoram, o comandante do Exército, sem explicar porque, usou o twittter para fazer um comunicado ao país. “Asseguro à Nação que o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade, respeito à Constituição, à paz social e à Democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais”, escreveu em seu primeiro post.

Se não fosse o contexto, seriam apenas platitudes.

No segundo tuíte, ele deu um recado aparentemente mais explícito:  “Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do País e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?”.

Mas, o que de fato isso quer dizer? Seria uma maneira de influenciar os votos dos ministros do STF? Se for, é um absurdo. Se não for, qual o motivo das manifestações?

Ouvi de fontes nessa madrugada que seria uma espécie de freio de arrumação dentro e fora de casa. Quer dizer, pra dentro, o recado seria de que o julgamento será respeitado independente da concordância ou discordância da sociedade e dos quartéis com seu resultado. Pra fora, um aviso de que a acabou a paciência com a impunidade para os corruptos  e isso pode esgarçar o país.

Passou dos limites.

Mesmo se a intenção, conforme nota divulgada pelo Comando do Exército, fosse mostrar que o Exército é antenado com o povo brasileiro, “se preocupa com os valores e legado que queremos deixar para as futuras gerações”, e fez “uma mensagem de confiança e estímulo à concórdia”.

A impressão é de que o Exército, cuja imagem melhora na mesma velocidade em que os políticos mergulham no pântano da corrupção, começa a gostar da ideia de voltar a ser uma espécie de poder moderador na República.

A nota do Exército que, a rigor, não desdiz nada, é apenas uma satisfação para os aflitos do Planalto. Depois do susto, eles tentaram baixar a bola. A primeira reação foi de que teria sido um desabafo pessoal do general Villas Boas, algo apenas para marcar posição.

Não colou.

General Joaquim Silva e Luna. Foto Orlando Brito

O general Joaquim Silva e Luna, ministro interino da Defesa, em tese chefe de Villas Boas, foi escalado para pôr panos quentes: “Não é uma mensagem de uso da força. É o contrário”. Raul Jungmann foi na mesma linha de bombeiro.

Não conseguiram apagar as chamas. Com exceção do boquirroto general Antônio Hamilton Mourão, que ainda na ativa ameaçou com intervenção militar, só a turma na reserva batia esse bumbo em público.

Agora, foi diferente.

As mensagens de Villas Boas foram saudadas por generais com comando de tropas. “Estamos juntos meu comandante!!! Na mesma trincheira firmes e fortes!!!! Brasil acima de tudo!!! Aço!!”, escreveu o general Geraldo Miotto. Ele está trocando o Comando Militar da Amazônia pelo Comando Militar do Sul. Outros generais foram na mesma toada.

Quem convive com o general Eduardo Villas Boas conta que, há algum tempo, ele se segura pra não dar um esculacho. Diz também que ele refletiu sobre as consequências antes de postar os tuítes.

Também não é coincidência que, logo após o horário previsto para o término da sessão do STF, começa em Brasília uma reunião do Alto Comando do Exército que, dizem militares, terá como pauta a conjuntura política.

Esses fatos alimentaram nessa madrugada infundadas teorias da conspiração. Se jogou para seu público interno e/ou para a opinião pública, o general Villas Boas deu um passo maior que seu coturno constitucional.

Tudo somado e subtraído, não há a menor possibilidade de golpe militar.

O que é bom, mas não resolve a questão.

O STF continua com o pepino na mão.

 

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