Bolsonaro nas cordas baixa a guarda

Com o véu do passado exposto pela queda de Queiroz, o presidente tenta se salvar com uma aparente reviravolta em alguns de seus dogmas

Bolsonaro com Weintraub - Foto Orlando Brito

Desde a prisão de Fabrício Queiroz na casa do advogado “anjo” Frederick Wassef, em Atibaia, Jair Bolsonaro começou a baixar a bola, parou de agredir outros poderes, deixou de se pautar pelas maluquices do “guru” Olavo de Carvalho e se livrou da encrenca Abraham Weintraub. Até as birutices diárias no cercadinho do Palácio da Alvorada foram suspensas.

Bolsonaro e Queiroz em pescaria no Rio

Nada sugere que ele tenha, finalmente, tomado juízo. Ele está é com medo. Caiu o alicerce do puxadinho de sua política no Rio de Janeiro, que teve Queiroz em um papel central, na arrecadação das rachadinhas e nas ligações com as milícias. Essa debacle, além de detonar a suposta proteção do tal anjo, ressuscitou o fantasma das milícias, com todas as suas possíveis consequências, que mantém o clã Bolsonaro na berlinda.

O que atormenta o entorno de Bolsonaro é que não dá mais para blefar com uma suposta intervenção das Forças Armadas para um parceria com as criminosas milícias. Seria uma promiscuidade tão ou mais grave do que na Venezuela. Que até a turma lambe-botas rejeita.

As investigações estão se afunilando, o cerco fechando contra a família Bolsonaro e seus ativistas, o que girou um parafuso na cabeça do presidente. Depois de gastar munição em tiroteios inúteis, quando se especializou na compra de brigas desnecessárias, faltam-lhe balas nas batalhas mais relevantes agora que está acuado. Foi pelas mãos de Jair Bolsonaro que Queiroz e Fred Wassef entraram na vida e nos rolos de seu clã.

Wasseff na posse de Fábio Faria no Planalto – Foto Alan Santos/PR

Tem coisas na vida que não dá para terceirizar. É essa a conta que chegou para o presidente da República. Os inquéritos no STF avançam com celeridade, tanto o que trata da denúncia da tentativa de intervenção na Polícia Federal como os das fake news e o financiamento a atos antidemocráticos. Todos eles têm a mesma síntese: a obsessão em proteger a sua prole. Ele gastou toda a sua munição nisso.

Sem lastro, a não ser os cofres do Tesouro, aposta cada vez mais a sua sobrevivência política nos acertos com o Centrão. Menos mal que a pregação golpista. Esse é um velho preço cobrado dos contribuintes em nome da governabilidade. Tomara que, em tempos de pandemia, com recessão e desemprego recordes, seja pago com um mínimo de parcimônia.

Bolsonaro pode até tentar disfarçar, mas o seu mandato passou a sangrar em praça pública. A velha política, por ele condenada nos palanques, já sentiu o cheiro. Isso assusta pelo menos uma banda dos militares que vinha lhe dando apoio. A excitação dos urubus de sempre espanta novos atores na política que têm uma retaguarda para prestarem contas.

Abraham Weintraub e Ernesto Araújo na cerimônia de hasteamento da bandeira no Alvorada, ao lado de André Luiz Almeida – Foto Orlando Brito

A opção do presidente pela política familiar se esgotou. A postura adotada, com estímulo dos filhos Carlos e Eduardo Bolsonaro, de seguir a cartilha de Olavo de Carvalho deu errado. Weintraub fugiu para os Estados Unidos. O que se questiona é sobre os cúmplices dessa empreitada. O chanceler Ernesto Araújo é suspeito. Grandes investidores mundiais cobram mudança na maluca política ambiental do ministro Ricardo Salles para manterem seus negócios no país.

O preço das doideiras de fazer uma “revolução cultural” no país, inspirada no maluquete Olavo de Carvalho, ficou muito salgado. Ou Bolsonaro entende porque está nas cordas ou vai a nocaute.

A conferir.

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