Ataque de Haddad a Universal põe em risco eficácia de aliança com a CNBB

O desespero não costuma ser bom conselheiro na luta política. Com uma montanha de votos para reverter e derrotar Jair Bolsonaro no segundo turno, Fernando Haddad se iludiu com o devaneio do PT — depois de passar o trator inclusive entre parceiros tradicionais — de articular uma ” frente democrática” capaz de virar o jogo.

Chegaram até a personificar o movimento em Ciro Gomes, Fernando Henrique e Marina Silva. Ciro e FHC, magoados com rasteiras e agressões petistas, deixaram os petistas falando sozinhos e viajaram para o exterior. Marina foi cuidar de seus afazeres.

A tal articulação de forças suprapartidárias, pelo pragmatismo de uns e o desencanto de outros, morreu antes de nascer. Além de Bolsonaro versus Haddad, estão no segundo turno 28 palanques em 14 estados. A grande maioria apoia Bolsonaro ostensivamente ou por baixo do pano. Sobraram apenas três palanques para Haddad, em estados como Sergipe, Amapá e Rio Grande do Norte, de pequeno eleitorado.

Sem apoio dos políticos, assediados pelo PT e esnobados por Bolsonaro (vide o mico de João Doria), a campanha de Haddad tentou conter o estrago que a ofensiva das igrejas evangélicas vem causando em sua candidatura desde a reta final do primeiro turno. Ele vem sendo exposto como anti-cristão, ateu, defensor do aborto etc. Sua aposta é o resgate de sua imagem entre o eleitorado religioso a partir de algum beneplácito da Igreja Católica.

Os números aferidos pelo Datafolha deram sentido de urgência a esse movimento. Haddad perde por pouco entre os católicos (46% a 40%)  e de lavada entre os evangélicos (60% a 25%). Os petistas  resolveram pedir socorro.

Ex ministro Gilberto Carvalho

Contam para isso com a ajuda do ex-ministro Gilberto Carvalho, uma espécie de pombo-correio com a Igreja  antes mesmo do PT chegar ao poder. Desde seu nascimento, no final dos anos 70 do século passado, a Igreja deu uma mãozinha para o partido. Com origem em movimentos sindicais, o partido espraiou-se país afora com a decisiva colaboração das famosas Comunidades Eclesiais de Base.

Toda vez que está no sufoco, o PT bate à porta dos bispos católicos. Lula o fez várias vezes. Até Dilma Rousseff, que não é benquista por lá, pediu ajuda durante o processo de seu impeachment. Em todos esses episódios, Gilberto Carvalho esteve presente.

Foi ele também que costurou a ida na quinta-feira (11) de Haddad à sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em Brasília. Ali, sentiu-se abençoado para se expor como uma pessoa religiosa. Disse que sua grande referência religiosa é o avô Cury Habib, que, no Líbano, após se tornar viúvo, virou padre da Igreja Ortodoxa Grega de Antióquia.

Na sexta-feira (12), numa missa em uma igreja na Zona Sul de São Paulo, em homenagem ao dia da Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, Haddad se mostrou à vontade durante as rezas, inclusive comungou.

Tudo indicava que, do ponto de vista eleitoral, Haddad estava fazendo seu primeiro gol no segundo turno. Depois da cerimônia, talvez por sugestão de alguns dos “gênios” que têm lhe aconselhado a dar tiro o pé, misturou um discurso pela paz com a compra de uma nova briga, aparentemente desnecessária. Atacou a fome de dinheiro do “fundamentalismo charlatão do Edir Macedo”, o todo-poderoso líder da Igreja Universal do Reino de Deus, do PRB e da TV Record.

A controversa trajetória de Edir Macedo pode até lhe dar razão. O problema é que o Bispo Macedo foi aliado de Lula e de Dilma Rousseff, tratado por eles a pão de ló. Só agora, quando ele resolveu apoiar Bolsonaro, o PT passou a enxergar seu “fundamentalismo charlatão?”.

Haddad pode até achar que com isso, além de agradar congregações rivais, ganha pontos com a TV Globo. Acreditar nisso é outra aposta errada.

À noite, veio o troco. A Igreja Universal recordou suas relações com Lula e Dilma e devolveu o suposto insulto: “Charlatão é o candidato que mente para o povo para ser eleito. Fome de dinheiro tem o partido que assalta estatais e cofres públicos para sustentar uma estrutura que a Justiça definiu como organização criminosa”.

Essa briga, envolvendo antigos parceiros, promete ir longe.

Bolsonaro vai assisti-la com o maior prazer de sua poltrona em sua casa num condomínio da Barra da Tijuca.

A conferir.

 

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