Antes tidas como certas, opções como Magno Malta viraram estorvo

Senador Magno Malta.

No Brasil e nos governos mundo afora, montar uma equipe ministerial é um processo que costuma resultar em um desenho final diferente do esboço original. Foi assim com políticos tarimbados como Tancredo Neves, populares como Lula, rejeitados como Michel Temer e acontece agora com o inexperiente Jair Bolsonaro.

Por ser um quebra-cabeça de múltiplos, poderosos e conflitantes interesses, peças tidas como certas acabam ficando fora do tabuleiro. São inúmeros os exemplos de quem foi dormir escolhido ministro e acordou fora do governo. Também não vale a regra de quem chegou antes, apoiou o candidato quando ele ainda estava em baixa, ter preferência na hora da decisão. O que vale é quem tiver mais cacife no momento de bater o martelo.

Deputado Alberto Fraga

Na definição do governo Bolsonaro vem ocorrendo exatamente isso. Alguns se achavam com mais cacife do que realmente tinham na hora do vamos ver. Caso do deputado Alberto Fraga, que vangloriou sua intimidade com Bolsonaro até se anunciar ministro e ser sumariamente desmentido e sair de cena. Quem de fato chegou a impressionar Bolsonaro foi o presidente da UDR, Luiz Antônio Nabhan Garcia, um de seus anfitriões na campanha eleitoral no interior de São Paulo. É atribuída a ele a paternidade da proposta algo estapafúrdia de fundir os Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente.

Deputada Tereza Cristina. Foto Ailton de Freitas

Com trânsito livre na casa de Bolsonaro, inclusive durante todo o período de sua convalescença,  Garcia se achava com um pé no ministério, tendo como plano B o deputado Jerônimo Goergen, do PP gaúcho. Setores mais modernos, com mais representatividade e peso econômico na área rural,  convenceram Bolsonaro a manter separados os dois ministérios e a escolher a deputada Tereza Cristina, líder da Frente Parlamentar da Agricultura.

Quem também entrou na berlinda foi o senador Magno Malta. De sonho de consumo para ser candidato a vice-presidente, presença destacada na campanha eleitoral, e em momentos marcantes como no atentado em Juiz de Fora e na noite da vitória no Rio, Magno de repente se viu na chuva. Apesar da reiterada gratidão de Bolsonaro, ele está inseguro, com receio de ficar fora da equipe e perder o foro privilegiado a partir de fevereiro.

Quando o general Hamilton Mourão o descreveu como um elefante na sala ou um camelo com necessidade de deserto, Magno Malta perdeu o chão. Percebeu que a opinião do vice-presidente eleito não era uma voz isolada, mas expressava o receio de militares que participam da transição e temem a exploração de vários escândalos ao longo de sua carreira política. Eles têm informações das áreas de inteligência e de segurança. Mas nem precisavam disso. Basta fazer um Google para constatar o telhado de vidro de Malta.

Senador Magno Malta

Mesmo assim, eles apostam que Magno Malta ganhará um cargo relevante no governo porque Bolsonaro já se comprometeu com isso de público e internamente. Torcem para que  o cargo não tenha a visibilidade de um ministério. Mas Malta quer um ministério. Sabe que, sem foro privilegiado, entra na mira dos procuradores da República no Espírito Santo. Por isso, ele faz pressão ostensiva. Até lançou uma campanha nas  redes com vídeos em que o apresentador Ratinho, o deputado eleito Alexandre Frota e o pastor Silas Malafaia atacam uma suposta campanha de difamação contra Malta e cobram de Bolsonaro a nomeação dele para um ministério.

O problema é que, depois do juiz Sérgio Moro aceitar o convite para ser ministro da Justiça, a tarrafa que já estava em uma boa altura com Paulo Guedes, o general Augusto Heleno e o astronauta Marcos Pontes, subiu bastante. O entorno de Bolsonaro está encantado com a repercussão até agora em relação a suas escolhas. A opção por Tereza Cristina, primeira mulher indicada para um ministério, não destoou.

Falta ainda a indicação de quase dois terços da equipe. Pode ser que na sequência venha nomes que repercutam mal. Se um deles for Magno Malta, certamente vai virar alvo e não apenas de adversários.

A conferir.

 

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