Presidente “nem culpado nem inocente”. Isso foi na Colômbia…

Foto: Divulgação/Netflix

Está à disposição no Netflix a terceira temporada da série Narcos, que tem o brasileiro José Padilha como produtor executivo e que tinha na primeira temporada o também brasileiro Wagner Moura no papel de Pablo Escobar. A série conta como se formaram e como foram desmanteladas as principais estruturas de tráfico de drogas do planeta, os Carteis de Medellin e de Cáli.

Especialmente, a série é perturbadora no retrato triste que faz de um país que chegou a ser inteiramente comandado pelo crime organizado. Um país onde o Executivo, o Judiciário, a polícia, todo mundo, tinha uma quadrilha de criminosos como patrão. E a dificuldade em se desmantelar isso quando a própria estrutura joga a favor do crime, inclusive com a conivência do grande império norte-americano em boa parte das vezes.

O relato de um Estado totalmente dominado pelo crime é o tema especialmente da segunda temporada. E, aí, qualquer semelhança é mera coincidência e encontrar eventuais coincidências fica por conta do freguês. Na terceira temporada, vemos o crime infiltrado na Colômbia desde a polícia da esquina até, talvez, o presidente da República.

Na troca do comando do narcotráfico do Cartel de Medellin para o Cartel de Cáli, com a queda de Pablo Escobar, o crime sofisticou-se. Passou a se dar de maneira mais sutil e profissional. Os irmãos Rodriguez-Orejuela, comandantes do Cartel de Cáli, criaram, então, um sistema pelo qual a própria República ajudava a manter e sustentar o crime, algo que um dos personagens da série batiza de “narcodemocracia”.

Em determinado momento, o chefe do clã Rodriguez-Orejuela tem a ideia genial de negociar uma rendição. Ele ganharia seis meses para encher o mundo de cocaína e ganhar dinheiro como nunca. Depois, se entregaria, receberia penas mínimas e passaria o restante da vida gastando a grana que acumulara tocando negócios lícitos e respeitáveis. A ideia estava negociada com o governo e tinha a ajuda da CIA. Só não foi bem combinado com os próprios traficantes e com a DEA (Drug Enforcement Agency, a agência americana de combate às drogas) e acabou dando errado.

Ao final, menciona-se o que ficou conhecido na Colômbia como “Processo 8000”, a investigação que apontava para o envolvimento do próprio então presidente da Colômbia, Ernesto Samper. A DEA apreende um livro de contabilidade dos irmãos Rodriguez-Orejuela que mostra a existência de doações do Cartel de Cáli para a campanha presidencial. Um longo processo, com passeatas e protestos nas ruas, desenrola-se na Colômbia. Ernesto Samper afirma-se vítima de uma trama, uma armação, para tirá-lo do poder. Diz não ter conhecimento do que era feito, segundo ele, à sua revelia. Ao final, é instalada uma comissão de investigação no Congresso Nacional, que conclui por não concluir. A comissão declara Samper “nem culpado nem inocente” por inexistência de provas. E a vida seguiu. Hoje, Ernesto Samper é secretário geral da Unasul (União de Nações Sul-Americanas).

De novo, estamos falando da Colômbia. Qualquer semelhança fica por conta da interpretação do freguês…

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