Marina apareceu. E disse a que veio

Há algumas semanas, Marina Silva, da Rede, chegou a ser motivo de piada por conta de seu desaparecimento momentâneo do debate nacional. Dizia-se que tinha reaparecido o menino do Acre (aquele da parada estranha do livro escrito, segundo alguns, num código inspirado no Manual do Escoteiro Mirim), mas que continuava desaparecida a “menina do Acre”.

Bem, Marina apareceu. E, justiça se faça, apareceu bem. O programa político que a Rede apresentou na terça-feira (29) é, talvez, o que o programa do PSDB gostaria de ter sido. Goste-se ou não, concorde-se ou não, o fato é que Marina e os demais políticos da Rede têm a vantagem de poder criticar métodos e propor novos processos sem o constrangimento de se verem também denunciados por envolvimento nas práticas e métodos que criticam. Que foi o problema do PSDB, fazendo falhar o programa do partido. O presidente em exercício tucano, senador Tasso Jereissati (CE) apontou o dedo para um governo do qual o PSDB participa ativamente e não tem – pelo menos parte do partido não tem – intenção de sair.

Nesse ponto, fica a Rede à vontade. Boa parte do partido – Marina à frente – saiu do PT por discordar de métodos do partido quando estava no governo. Nenhum de seus nomes está envolvido com a Operação Lava-Jato. Que constrangimentos poderão haver para Marina e seu partido? Ter apoiado Aécio Neves, do PSDB, no segundo turno das últimas eleições presidenciais ou se surgir algo mais grave envolvendo o ex-candidato do PSB à Presidência Eduardo Campos, do qual Marina era vice. Quanto a Aécio, no segundo turno a opção era ele ou Dilma Rousseff, com quem Marina rompera no processo que levou à fundação da Rede. Quanto à campanha de Eduardo Campos, nada do que se viu até agora envolve ainda que minimamente Marina.

Assim, o programa da Rede pareceu passear bem mais à vontade pelos temas que hoje incomodam e que são os alvos principais da Lava-Jato e das demais investigações paralelas. A Rede propôs uma “Operação Lava-Voto”, ou seja, convidar o eleitor a buscar em 2018 nomes que não estejam sendo investigados. Botou no ar o juiz Marlon Reis, criador da Lei da Ficha Limpa, para propor proibição semelhante (a partir da condenação em segunda instância) para qualquer servidor público. Retirou da aposentadoria o ex-senador Pedro Simon, resgatando e puxando para si sua respeitabilidade.

Trouxe dois economistas respeitados, Eduardo Gianetti e Ricardo Paes de Barros, um dos nomes mais identificados com a criação do Bolsa-Família. Assim, apresentou-se como uma alternativa à esquerda para o pleito de 2018. Finalmente, a ex-senadora Heloisa Helena apresentou-se como comandante da Fundação Brasil Sustentabilidade, que fará uma caravana pelo país discutindo propostas para o país a partir de três eixos: educação, combate à desigualdade e desenvolvimento sustentável.

E, no meio de uma discussão de reforma política que ninguém entende e muita gente desconfia ser inócua, trouxe uma proposta concreta: a PEC 350, que institui a possibilidade de candidaturas avulsas nas eleições, ou seja, de candidatos sem qualquer filiação partidária.

Enfim, houve novidade no programa da Rede. Como isso se refletirá no humor do eleitorado, é algo a conferir. Mas a “menina do Acre” reapareceu. Ela está de volta ao debate.

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