Chá, paçoca e autenticidade

O ex-senador e futuro senador – se Deus quiser – Eduardo Suplicy é um sujeito surpreendente, e isso não é novidade pra ninguém. A naturalidade, sagacidade, inventividade e empatia provocada por seus vídeos e fotos nas redes sociais já são legendárias, especialmente não se tratando de um político com um esquema poderoso de mídias sociais por trás. Muito pelo contrário. A chave do sucesso é o próprio Suplicy, e isso não há planejamento estratégico digital que invente.

A mais recente façanha do influenciador digital Suplicy é uma dessas coisas que não há teoria que explique. Embora sua missão atual seja juntar-se à militância petista na defesa da inocência do ex-presidente Lula, nenhum discurso postado nas redes fez mais sucesso do que uma transmissão que fez ao vivo, tomando chá, sem falar uma palavra. O vídeo, intitulado “Férias!”, bombou. De agasalho azul, sentado numa típica mesa de boteco, celular ao lado da caneca, come detidamente uma paçoca e depois beberica um chá. Teve pouco mais de um minuto e mais de 150 mil visualizações.

É de um minimalismo soberbo, sem ser bobo ou tolo – como gostam de dizimar seus detratores – , e o oposto do que fazem os políticos (e os ditos não políticos) pra chamar atenção, inclusive na internet, como o João Bobo Dória, com seu marketing de fantasia, autêntico como uma nota de dois reais e sutil como um elefante numa loja de cristais. Suplicy beira os 800 mil seguidores no Facebook e tem mais de 300 mil no Twitter. Claro, não chega perto de um ídolo pop do mainstream, como Anitta, que tem mais de 12 milhões de seguidores no Facebook, mas impressiona. Pra que se tenha uma ideia, seu filho, o roqueiro Supla, tem 45 mil seguidores nesta rede. A tal ponto que o Buzzfeed fez uma galeria de vídeos com os momentos incríveis do Suplicy nas redes sociais.

Em 2008, um vídeo de Suplicy curtindo Racionais Mc’s no meio da galera teve 640 mil visualizações. Antes, ele já havia cantado um rap do mesmo grupo sentado em uma comissão no Senado, inclusive imitando um cachorro latindo, garantindo 400 mil visualizações e a alcunha de “Mano” Suplicy. Na mesa, o falecido senador Antonio Carlos Magalhães teve que conter as gargalhadas – e a admiração. Uma semana depois de o Conselho de Ética do Senado enterrar um caminhão de representações contra o então presidente da Casa, José Sarney, Suplicy foi à tribuna aplicar um “cartão vermelho” ao peemedebista. “Eu não aguentei e vim do meu gabinete para assisti-lo”, aparteou Heráclito Fortes, à época no DEM.

Suas performances musicais, por sinal, são antológicas. Em 2012, subiu ao palco durante a entrega do Prêmio Congresso em Foco para cantar Bob Dylan com Tiririca. “É uma música pela paz, Tiririca, venha cantar junto conosco.” Não importa o quanto, mais uma vez, foi desafinado, ele entoou “The answer, my friend, is blowin’ in the wind, The answer is blowin’ in the wind”. Em 2014, protagonizou um desses momentos inacreditáveis. Durante uma passagem da ídola Joan Baez, por São Paulo, dividiu o palco com ela, que fez seu primeiro show no Brasil mais de 30 anos após ser proibida, e Geraldo Vandré. Claro, cantou “Blowing in the Wind” ao lado da ex-mulher de Bob Dylan.

“Sim, o Suplicy é essa pessoa simples, boa e original, quase inacreditável”, explica Fernanda Lohn, hoje fotógrafa, que trabalhou como assessora dele por 15 anos no Senado. Ela lembra da ligação do ex-senador com a juventude, com suas frequentes palestras, o que o fez entender logo o papel das redes sociais, onde os jovens se encontram. Não sai da memória dela o vídeo de Suplicy, camiseta branca, braços definidos à mostra, aderindo à então campanha do balde de gelo, de apoio a doenças raras, em 2014, que alcançou mais de 140 mil visualizações. Podia parecer uma bobagem, mas era 100/% Suplicy. Então, valia.

No ano passado, convidado de um programa transmitido ao vivo pelo prefeito de João Doria – parecem ter esquecido quem é Suplicy -, o vereador pediu ao tucano que parasse de xingar os ex-presidentes petistas Lula e Dilma. “Você acha admissível que uma pessoa se refira a uma mulher, como as que estão aqui nos assistindo, como ‘anta’?”, questionou o vereador. “Não é a melhor referência”, admitiu o prefeito. Agora, imagine que alguém vire e fale para você: esses dias rolou uma reunião do Silvio Santos com o Zé Celso Martinez, intermediada pelo João Dória e com a presença do Suplicy. Surreal, não é? Mas a reunião aconteceu em agosto e nela Silvio e Zé Celso tentam resolver uma pendência sobre um terreno de Silvio nos arredores do Teatro Oficina, que é de Zé Celso. Essa disputa já dura mais de 30 anos. Suplicy estava lá, lembrando que a sociedade está de olho.

Não há outro Suplicy. Nem haverá. E por melhor que seja se deslumbrar com ele nas redes sociais, nada seria melhor do que tê-lo de volta na tribuna do Senado.

Férias!

Posted by Eduardo Suplicy on Saturday, January 13, 2018

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