O próximo Natal de Bolsonaro não terá panetone

Deputado Jair Bolsonaro. Foto Orlando Brito

Cada vez menos aterrado no petismo, e voando acima do quadro partidário, Lula mudou de campos nos últimos dias, mas em todos mostrou que está em grande forma. No gogó, levou uma entrevista à margem da grande mídia, a um grupo de “independentes”, onde confessou seu tesão pelas urnas. Foi um show de frases de efeito. Logo depois estava batendo bola com Chico Buarque, João Pedro Stédile e Fernando Haddad no Campo Dr Sócrates Brasileiro. Depois de duas tentativas, marcou um gol de pênalti e comemorou com a torcida tirando a camisa. Acabou expulso, em uma cena quase eclesiástica, ensaiada com o “juiz” Juca “Moro” Kfouri.

Não tem nada parecido na praça. Nem de perto. Lula segue como uma avis rara num cenário de personagens sem graça. Talvez por isso, insensíveis ao espírito do Natal, homens de preto, com suas túnicas a la Batman, já preparem o cadafalso para o que pretendem será o enforcamento de sua candidatura. Num dado patíbulo de Porto Alegre, em poucas semanas, seguindo o calendário judicialista, tentarão enlaçar a cabeça mais cobiçada da República.

Mais potente que os holofotes da mídia, porém, é a luz ofuscante da tal democracia, que teima em indicar-lhe caminhos para longe do destino fatídico. O tempo continuará essa narrativa, enquanto o quadro eleitoral se ajusta às curvas das pesquisas eleitorais.

Um raro ponto de interseção entre Lula e aquele que hoje é sua sombra na disputa é também aquilo que mais os separa. A intenção de votos em ambos não obedece mais à lógica partidária, mas a uma espécie de catarse. Um é voto do coração, o outro o voto do fígado. Lula cresceu muito mais do que o seu PT natal. E pode crescer, como já cresceu antes, acima do universo ideológico. Bolsonaro, por outro lado, não tem identidade com partido nenhum, nem mesmo os que aceitam carregar sua carcaça na campanha. A grande diferença é que nem um extreme makeover transformaria Bolsonaro em algo palatável. Lula é o bom velhinho com tesão de urna. Bolsonaro é o Grinch, o candidato que odeia o espírito da democracia e quer punir todo mundo que não pensa como ele.

Assim, enquanto Lula-Noel fecha o ano batendo bola, o Capitão-Grinch, que ganhou sua clientela como o linha dura, e tentou disfarçar suas limitações como um honoris causa de meia tigela, vai caminhando rapidamente para se converter no Capitão-purpurina, que vai implodir em mil cores numa aurora polar inesquecível. Com o velhinho de barba branca e roupa vermelha já dando de comer a suas renas, a disputa, ao longo de 2018, será muito mais para saber quem vai ocupar na corrida a vaga que Bolsonaro abrirá assim que despencar do trenó. Geraldo Alckmin, o santo, que vem correndo por fora, enquanto esmaga a resistência dentro do próprio partido, espera pegar as sobras do eleitorado anti-PT. Mas, claro, tudo isso vai depender do andar do trenó de Lula-Noel.

Feliz – e democrático – Natal a todos! Ho! Ho Ho!

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Jornalista e analista sênior de informações. Formou-se na Universidade de Brasília em 1987. Por mais de 20 anos, foi repórter, editor, correspondente e chefe de Sucursal em alguns dos principais veículos de comunicação do País: O Globo, Jornal do Brasil, Folha de S.Paulo, Istoé e Correio Braziliense. Trabalhou na FSB Comunicação, onde, por oito anos, foi diretor do núcleo de Mídia & Análise. É diretor de Atendimento da Santafé Ideias, no Rio, além de colaborador da Avenida Comunicação. Também é sócio-fundador da RMPJ e da Revista Tablado. Entre as premiações que recebeu estão o Prêmio Esso de Jornalismo, com a equipe de IstoÉ, e Menção Honrosa no Prêmio Vladimir Herzog. É pai de Bruno e Gabriela.