Temer no campo de batalha

Presidente Michel Temer.

Na vida e na política o que importa são os símbolos. A intervenção das Forças Armadas no protesto de ontem, em Brasília, passou uma imagem de despreparo, fragilidade e truculência. Claro, embora os de sempre digam que é preciso reprimir essa gente.

Na gestão do ex-presidente da Câmara Aldo Rebelo (2005/2007) houve uma tentativa de invasão da Câmara. Ocorreram embates entre manifestantes e a segurança legislativa. Mas tudo foi resolvido e negociado sem chamar as Forças Armadas.

Manifestantes podem ter passado da medida, como os que participaram do quebra quebra contra o então governador do Rio, Sergio Cabral, em 2013. Bombas contra o prédio de Cabral. Depredação em lojas e bancos. Mas foi enfrentado e resolvido pela Polícia Militar.

Acuados, o governo e seus aliados tentam fazer uma defesa envergonhada da intervenção militar. Citam Rio+20, Copa do Mundo 2014 e Jogos Olímpicos Rio-2016. É como comparar coquetéis molotov com fuzis militares, metralhadoras e bazucas. Cada um na sua. É como comparar dar uma satisfação a estrangeiros com, digamos, a satisfação do Planalto.

Sem falar, como lembram analistas, que o governo Temer deu vida e uniu entidades sindicais que perderam, há muito, sua importância no cenário político e junto aos trabalhadores.

A intervenção militar foi solicitada pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Este está empenhado em demonstrar serviço para o mercado e o Palácio do Planalto. Sua bandeira são as reformas da previdência e trabalhista. Sem elas, passa em branco no posto, quanto tantos outros.

Foi executado com regozijo pelo ministro da Defesa, Raul Jungmann. Aquele que não deixou o governo mesmo após decisão de seu partido, o PPS, EX-PCB. Esta talvez tenha sido a coisa mais importante que fez na sua vida.

E concedida pelo presidente da República, Michel Temer. Ele tem como pretensão ser o presidente das reformas, mas corre o risco de entrar para a história como o presidente SOS Forças Armadas.

FLAGRANTES DA VIDA REAL

1. O presidente Temer pede pressa para tratar dos fatos que o envolvem na Lava Jato. Mas quer que um dos seus retarde o julgamento da cassação da chapa Dilma/Temer no TSE.

2. O PT foi ridicularizado quando denunciava o abuso de autoridade do juiz de PRIMEIRA INSTÂNCIA Sérgio Moro. Agora, PMDB E PSDB adotaram o discurso do autoritarismo judiciário contra o ministro do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, Edson Fachin.

3. O presidente do PSDB, Aécio Neves, não defendia em público a aprovação da anistia para o Caixa 2 e da lei de abuso de autoridade. Mas chamou de “m…” os presidentes do Senado, Eunício Oliveira, e da Câmara, Rodrigo Maia, por não enfrentarem a opinião pública. Queria que eles colocassem a cara a tapa, enquanto ele usava uma máscara.

4. As gravaçōes de Joesley Batista Friboi causam repulsa nos atingidos. Mas onde estavam quando o senador Delcídio Amaral fez as suas?

5. Há uma indignação contra a divulgação de fatos que não seriam necessários à investigação. Mas isso já ocorreram outras vezes, diante do silêncio do distinto público.

6. A presidente Dilma foi denunciada por pretender dar foro privilegiado ao convidar o ex-presidente Lula para assumir a Casa Civil. Dizem que o presidente Temer dá foro privilegiado ao manter em seus cargos ministros investigados pela Lava Jato.

7. Não há nada como um dia depois do outro, diz um ditado popular. Mas nada disso é novidade. Basta ter lido “O Puxa-Saquismo ao Alcance de Todos” do jornalista pernambucano Nestor de Hollanda, publicado em 1963 no Rio. Acho que também é uma boa leitura outro de seus livros: “A Ignorância ao Alcance de Todos”.

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