Atual governo dificulta a discussão da reforma da Previdência

Presidente Michel Temer e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.

A semana tem sido de manifestações contra a reforma da previdência em todo o Brasil. Muitas motivadas por interesses políticos, mas não por isso menos importantes. É preciso reconhecer que o assunto é delicado e o momento é difícil. Abaixo cito seis fatores, de muitos que existem, que dificultam a discussão do assunto no Brasil.

Para começar o momento é de crise, insegurança e instabilidade. A população não está com humor para ver sua aposentadoria atrasada e a possível perda de direitos.

Um outro problema é o mau exemplo. Quem encabeça a reforma é o Presidente Michel Temer, que por acaso aposentou-se aos 55 anos. A proposta em discussão prevê idade mínima de 65 anos para aposentadoria. Ou seja, faça que eu digo, mas não faça o que eu faço.

Agora o maior problema talvez seja a falta de perspectivas. Por que e pelo que o brasileiro vai fazer esse sacrifício? Para continuar tendo um serviço de saúde precário, uma educação entre as piores do mundo, uma insegurança pública do norte ao sul do país, uma má gestão dos recursos públicos, uma corrupção sistêmica e um governo criando ministérios para agradar aliados? Qual a contrapartida?

Para piorar a situação, os mais atingidos pela reforma serão os jovens, num momento em que o desemprego está altíssimo nas faixas de idade iniciais (cerca de 24,5% na faixa de 18 a 24 anos). Ou seja, a cada ano desempregado o jovem tem a aflição de que não conseguirá nunca se aposentar. E não deixa de ser uma preocupação compreensível.

Outro problema é a divisão que o Brasil se encontra. Ninguém chega a um acordo, ninguém consegue discutir ideias, todos já chegam com suas opiniões prontas e imutáveis e nem o próprio governo dá exemplo. No lugar de discutir a reforma, usa a velha tática de comprar votos com cargos no governo. E não obstante, muitos não reconhecem o governo Temer como legítimo. Baita problema, né?

E para finalizar, falta comunicação e transparência nos dados da seguridade social. Na internet é possível encontrar várias teorias – com dados diversos. Algumas provando o déficit, outras o superávit. O governo precisa colocar tudo a panos limpos, explicando a necessidade do uso da DRU, os problemas que a falta de reforma pode causar no orçamento da união nos próximos anos e detalhar melhor os dados da previdência.

A reforma é apontada por muitos especialistas e acadêmicos respeitáveis como uma necessidade imediata, mas a atual gestão tem imensas dificuldades. Talvez uma reforma saudável, transparente e palatável só venha a acontecer no próximo governo. Uma agora teria que descer “goela abaixo” trazendo consequências imprevisíveis.

 

João Gabriel Alvarenga é colaborador em Os Divergentes.

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