Temer, Segovia, a PF e a trapalhada que virou crise

Temer e Segovia Foto: Marcos Corrêa/PR

Sob todos os ângulos, o diretor geral da PF, Fernando Segovia, perdeu uma boa oportunidade de ficar calado na entrevista que deu à Reuters. Depois de um dia em que o mundo caiu sobre a cabeça do delegado, que apanhou de associações diversas (de delegados e peritos da PF à OAB) e acabou intimado pelo ministro Luís Roberto Barroso a dar explicações, as apostas em Brasília são de que Segóvia se segura no cargo. Mas extremamente enfraquecido – ele mesmo e o governo ao qual pertence.

No encontro que acertaram para o dia 19, o diretor da PF deverá jurar a Barroso que não disse o que disse, ou seja, que tenha sugerido que o inquérito contra o presidente Temer acabará arquivado por falta de elementos. Também vai negar de pés juntos – como fez em nota neste sábado – qualquer ameaça de punição ao delegado encarregado da investigação de pagamento de propinas em troca de benefícios no decreto dos Portos. Dando o dito pelo não dito, vai ser difícil ao ministro do STF punir ou forçar a demissão de Segovia.

Isso, porém, não livrará o delegado do enorme desgaste do episódio, talvez o mais grave envolvendo o número 1 na hierarquia da PF nos últimos anos, que não apenas expõe a instituição perante a opinião pública, mas abre uma crise interna. E todo mundo sabe que crises na Política Federal, colocando seus grupos em guerra, não costumam resultar em boa coisa. Há um pessoal que pega pesado, e usa gravações, vazamentos e outros recursos de investigação no vale tudo dessas disputas. As balas perdidas costumam atingir, inclusive, gente fora da corporação.

É pequena a possibilidade de Michel Temer vir a destituir Segóvia do cargo. Afinal, tem razões para estar muito satisfeito com ele. Mas é grande o desgaste que a trapalhada do diretor da PF produziu para ele. Num momento em que Temer tenta mudar de agenda, espalhando notícias de que pode se candidatar à reeleição, as acusações de corrupção contra ele voltam ao noticiário. A limonada que o presidente e Segovia  pretendiam fazer com notícias sobre um suposto arquivamento dessas investigações volta a ser um limão muito amargo.

 

 

 

 

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