Retrocesso: Temer quer um PGR para chamar de seu

Michel Temer e Rodrigo Janot
Michel Temer e Rodrigo Janot

O sonho de consumo de Michel Temer agora é ter um procurador geral da República para chamar de seu, uma espécie de Geraldo Brindeiro, aquele que, nos idos do governo Fernando Henrique Cardoso, era conhecido nas rodas brasilienses de engavetador geral da República. Os mais velhos – entre os quais eu não me incluo – se lembram que, naquela época, não havia essa moda de lista tríplice para escolha do PGR e o escolhido do Planalto matava no peito todas as acusações ao presidente e seus ministros.

A decisão de nomear procurador o primeiro colocado de uma lista tríplice eleita pela própria categoria, dando independência e legitimidade ao chefe do Ministério Público, é uma invenção do governo Lula. O petista resolveu mostrar que era democrático e adotou a sugestão das associações de procuradores. Na verdade, a Constituição prevê apenas que o presidente escolherá um integrante da carreira e pronto. Mas a mudança foi feita e seguida por Dilma Rousseff.

Agora, com a corda no pescoço, Michel Temer sabe que depende desesperadamente do novo PGR, que pode mudar sua vida arquivando denúncias, encerrando investigações e assegurando sua permanência no cargo até 1 de janeiro de 2019. Por isso, sua estratégia é sobreviver a Rodrigo Janot até setembro – reunindo 172 votos ou ausências na Câmara para barrar sua primeira denúncia – e escolher alguém que lhe dê tranquilidade. Ou seja, que enterre as demais denúncias.

Mas o problema, segundo admite o entorno do presidente da República, é descobrir se esse sujeito já nasceu. Ou, principalmente, se pode chegar lá sem gerar uma crise.  Seu dilema é nomear alguém de fora da lista, provocando um retrocesso institucional que será muito criticado e passando a ideia de querer cercear a independência do PGR, ou, mesmo escolhendo o mais amistoso dos três finalistas eleitos entre os oito candidatos que se apresentaram, não ter garantia de nada.

Nesse caso, não haveria maiores certezas sobre a fidelidade do novo PGR, ainda que ele seja de oposição a Janot, que o Planalto não quer ver nem pintado. Afinal, a categoria dos procuradores é extremamente organizada, politizada e dividida. Qualquer que seja o escolhido, terá que prestar satisfações e sofrerá pressões de seus pares.

Temer está entre a cruz e a caldeirinha, ou seja, o retrocesso e a incerteza.

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