Bonifácio e a defesa aberta e desabrida dos políticos

Deputados Rodrigo Pacheco, presidente da CCJ da Câmara, e José Bonifácio, relator da denúncia contra MIchel Temer.

Pode-se dizer qualquer coisa do deputado Bonifácio de Andrada, menos a de que não é um sujeito corajoso. Aos 87 anos, mostrando ainda estar vivíssimo, sentou-se agora à tarde na CCJ da Câmara para proferir um voto absolutamente político, um verdadeiro libelo de defesa não apenas do presidente Michel Temer, mas de todos os políticos acusados de corrupção.

Bonifácio foi na contramão da mídia, da opinião pública e, segundo as pesquisas, da manifestação majoritária da população. Lavou a alma de todos os acusados da Lava Jato ao denunciar o que chamou de “ataque generalizado aos homens públicos do país”. Bateu duramente no Ministério Público, na Polícia Federal e no Judiciário, criticando a espetacularização de suas ações.

O deputado disse, em seu voto, que o Ministério Público está criminalizando a atuação política e partidária, “numa ampla acusação à vida pública brasileira”, considerando que Temer e seus ministros, acusados de organização criminosa, estavam apenas fazendo política. O fato de ser pai de um procurador que ocupava um dos mais altos cargos da hirarqquia da PGR na gestão Janot, o Sub-procurador da República Bonifácio de Andrada, não parece tê-lo inibido.

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O relatório Bonifácio de Andrada pelo arquivamento da segunda denúncia já era esperado e faz parte do script que levará Temer a se safar de mais essa e governar até 1 de janeiro de 2019. A surpresa, boa para o Planalto e para todos os que têm contas a acertar com a Lava Jato, veio no tom.

No Congresso, há expectativa de que esse discurso desabrido em favor  dos políticos acusados de corrupção vá encorajar outras reações ostensivas no establishment político. Muita gente que andava envergonhada vai desencantar nos próximos dias e abrir guerra.


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