O dique de impunidade erguido pelo PMDB no Senado protege Aécio Neves

Senadores João Alberto e Aécio Neves

O Conselho de Ética do Senado já foi palco de memoráveis apurações. Alguns dos principais caciques da política brasileira, como Antônio Carlos Magalhães e Jader Barbalho, foram ali condenados e, para se beneficiarem de uma brecha nas leis de então, renunciaram aos mandatos para não perderem os direitos políticos.

Repórteres de revistas e jornais buscavam avidamente casos de corrupção que envolvessem senadores na expectativa de que, levados ao Conselho de Ética, teriam vida longa.

Em fevereiro de 2005, uma dupla assumiu o comando do Senado. Renan Calheiros, como presidente, e Ney Suassuna, seu fiel escudeiro, o substituiu na Liderança do PMDB.

Suassuna cruzou comigo no plenário, abriu um sorriso, e anunciou: “Acabou a festa de vocês no Conselho de Ética”. Eles acabavam de escolher o senador João Alberto (PMDB-MA), discípulo de José Sarney, para presidir o Conselho de Ética.

Deu tão certo para a turma do PMDB que, de lá para cá, João Alberto foi reeleito 5 vezes para comandar nos últimos 12 anos o Conselho de Ética.

As aparente exceções só confirmam a regra. Vamos a elas.

Por seu envolvimento no escândalo dos Sanguessugas – uma roubalheira generalizada de dinheiro destinado à compra de ambulâncias -, Ney Suassuna chegou a ser investigado. O então senador Jefferson Peres até pediu sua cassação. Ele recebeu apenas uma censura verbal.

Renan Calheiros também passou por lá. Policarpo Júnior publicou na Veja a história de que Mônica Veloso, mãe de uma filha de Renan, recebia pensão paga pela empreiteira Mendes Júnior.

Trabalhava na Época, concorrente da Veja, fui checar com Renan. Ele disse que era mentira e tinha como provar. Durante a conversa, um assessor jurídico disse que já tinha elaborado um parecer para João Alberto arquivar o pedido de apuração no Conselho de Ética.

Renan ralhou com ele. Disse que fazia questão de ser investigado pelo Conselho de Ética por se tratar de uma mentira que iria desfazer rapidamente.

Logo depois, fomos juntos para o escritório do advogado Eduardo Ferrão. Ele achou meio estranho, mas, a pedido de Renan, me entregou as declarações de renda do senador. Renan esperava uma capa da Época em que ele apresentava provas de que era mesmo de seus rendimentos os pagamentos à Mônica Veloso.

Os repórteres Murilo Ramos, Matheus Leitão e eu viramos a noite analisando a papelada. Conclusão: os rendimentos eram insuficientes para os tais pagamentos.

Renan até hoje lamenta não ter entregue a documentação a outro repórter. O que ele não entende é que todos chegariam a mesma conclusão, conforme todas as investigações comprovaram e o tornaram réu no Supremo Tribunal Federal.

Mesmo assim, Renan foi absolvido pelos colegas no plenário.

Na gestão João Alberto, o Conselho de Ética pegou pesado com gosto apenas com Demóstenes Torres. Mas aí houve um confluência de provas contundentes com o desejo de dar o troco de senadores que haviam sido alvo de ataques moralistas do então vestal Demóstenes.

O Conselho aprovou também a cassação de Delcídio do Amaral. Isso depois de ele ter sido preso, decisão ratificada pelo Senado, e já se saber que ele estava entregando uma penca de colegas em sua delação premiada. Esse é o exemplo de João Alberto de rigor em suas múltiplas gestões.

O tempo passa, o mundo gira, e o Conselho de Ética sob a batuta de João Alberto continua igual. Nessa sexta-feira (23), ele simplesmente arquivou a representação contra Aécio Neves, gravado por Joesley Batista em uma conversa pra lá de comprometedora. Diz ele que não havia provas. Vai além. “O que vi foi uma grande armação contra Aécio Neves”.

Pedido de grana, entrega de malas com dinheiro, tudo gravado, não significam nada.

É a República da cara de pau.

Ney Suassuna tinha razão.

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