Avalistas do caos no Rio querem espetar a conta no país inteiro

Governador Luiz Fernando Pezão, presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia. Foto: Paulo Vitor/Fotos Públicas

A intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro é a polêmica da vez nas ruas e nas redes sociais. Discute-se sobre intenções, métodos e eficácia.

Mesmo que, há tempos, essa bola venha quicando na área, o improviso parece ser o elo entre a ação e as mais variadas reações.

O verão foi atípico. As flores do recesso murcharam antes mesmo de vicejarem. No fim do ano, Paulo Maluf, ícone da corrupção política, finalmente foi preso. Um mês depois, Lula foi condenado, por corrupção e lavagem de dinheiro, em segunda instância, num julgamento histórico em Porto Alegre.Com o fim do Carnaval e do horário de verão, os poderes em Brasília retomam sua rotina. Minas altamente explosivas estão na pauta do STF, como o destino da Lava Jato e a prisão de Lula.

Ministros Etchegoyen e Jungmann e o general Braga Netto. Foto Marcelo Camargo/Agência Brasil

 

Durante todo o recesso parlamentar, a reforma da Previdência era tida e havida como o primeiro grande embate no novo ano legislativo. Especulava-se sobre os impactos econômico e político de seu sucesso ou fracasso.

Tudo indicava que, para Michel Temer, era um jogo perdido.

Em vez de continuar gastando suas fichas com aliados insaciáveis, que pediam cada vez mais e nada entregavam em contrapartida, ele apostou o cacife que lhe restava em um lance arriscado.

Aos 45 minutos do segundo tempo, pôs em campo a intervenção na segurança do Rio e mudou as pautas nos três poderes da República.

Ousou nesse improviso. Pegou de surpresa aliados e adversários.

Puxada pelo PT, as oposições reagiram atirando, sem nem mesmo saber em que. Como os inquilinos do Palácio do Planalto, elas não têm a menor ideia de até aonde isso vai chegar, quem vai perder ou se beneficiar nas eleições.

Nesse mesmo bate-pronto, incomodado com a tentativa de lhe tirarem sua principal bandeira, Jair Bolsonaro detonou a medida, na expectativa de que a caserna o aplaudiria. Queimou a língua. Os clubes militares, sempre avessos ao uso das Forças Armadas em tarefas de segurança pública, aplaudiram.

Essa reação tem algumas explicações. Uma delas foi contada aqui por Helena Chagas, depois de ouvir gente da área: os militares toparam a empreitada apostando na engorda de seus orçamentos.

Evidente que, nesses tempos de aperto financeiro, um dindim a mais sempre será bem-vindo, especialmente para quem corre risco e tem serviço a mostrar.

Vira problema quando quem, por ação, omissão ou cumplicidade, tem culpa no cartório pelo caos na administração e na segurança no Rio de Janeiro, também passa a cobrar pedágio como se ajuda federal fosse um encargo.

Deputado Jair Bolsonaro. Foto Orlando Brito

Luiz Fernando Pezão pede grana na maior cara de pau. Ele continua a se comportar como analista de obra alheia. Como se, junto com Sérgio Cabral, Jorge Picciani e toda a turma, nada tenha a ver com o caos no Rio. É inacreditável que, mantendo todas as mordomias e foro privilegiado, continue governador e passando o chapéu em Brasília.

Nem é o único. Fazendo beicinho, por ter perdido o protagonismo para o sogro postiço, Rodrigo Maia diz que a intervenção só tem sentido se acompanhada por um saco de dinheiro. Pelo valor de face, ele quer vender a ideia de que a ajuda militar, um custo em si, se não vier com grana, vira um estorvo. Como se boa parte das contas da administração no Rio já não estejam sendo pagas com o dinheiro dos contribuintes de todo o país.

Maia indicou como relatora do decreto de intervenção a deputada Laura Carneiro, que já entrou na história especulando se podia propor uma mudança para explicitar que a conta da intervenção será paga pela União.

Mesmo com cheiro de malandragem, a intervenção é necessária. Tem um custo que é justo o país pagar. Mas não é aceitável que, espertamente, as contas das roubalheiras dos políticos e empresários do Rio sejam espetadas em quem, em outros estados, já está arcando com os descalabros de suas próprias administrações.

A conferir.

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